
Câncer de colo de útero: o impacto de um tumor que pode ser evitado
Com cerca de 570 mil novos casos registrados em 2018 no mundo, o câncer de colo de útero representa 7,5% das mortes femininas por cânceres, com a estimativa de 311 mil mortes por ano, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Um detalhe importante: mais de 85% das mortes por câncer de colo de útero acontecem em regiões menos desenvolvidas do mundo. A OMS defende que a alta mortalidade pela doença em todo o mundo poderia ser reduzida com programas eficazes de triagem e tratamento.
“É um impacto global de um tumor evitável. Não é para acontecer”, destaca a oncologista Juliana Pimenta, membro do comitê científico do Instituto Vencer o Câncer (IVOC). “Infelizmente a gente não consegue evitar a maior parte dos tumores, mas o câncer de colo de útero é evitável. Com vacinação contra HPV nas crianças e realização de papanicolau de forma adequada conseguimos evitar”.
Conforme a OMS, o tratamento precoce previne até 80% do câncer do colo de útero onde existem programas em que as mulheres são examinadas, identificando a maior parte das lesões pré-cancerosas em estágios iniciais, quando são facilmente tratadas.
Juliana Pimenta explica que nos lugares onde há rastreamento adequado e os exames são realizados seguindo as orientações, é possível prevenir. “Na maioria das vezes o exame diagnostica uma lesão pré-maligna, que é tratada e não vira um câncer. Nos lugares onde não são feitos os exames de forma rotineira e adequada, têm incidência maior de câncer de colo de útero. É triste que a gente tenha diagnóstico em fases tão tardias nos países menos desenvolvidos”, lamenta. O papanicolau é o exame que auxilia o diagnóstico desse tumor e quando é necessário, se há uma lesão suspeita, por exemplo, a indicação é realizar colposcopia com biópsia.
No Brasil, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o número de novos casos estimados para o triênio 2020-2022 é de 16.590 por ano. Enquanto no mundo o câncer de colo de útero é o quarto tipo de tumor mais frequente nas mulheres, no Brasil, sem considerar os tumores de pele não melanoma, há regiões em que esse índice prevalece, mas em outros a situação fica bem pior. Esse tipo de tumor também é o quarto mais frequente na Região Sul e ocupa a quinta posição na Região Sudeste. Já no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, é o segundo tipo de tumor mais incidente. A OMS avisa que o câncer de colo de útero é o segundo tipo de câncer mais frequente em mulheres que vivem em regiões menos desenvolvidas do mundo.
Por que temos no Brasil índices do tumor equivalentes a países mais desenvolvidos e taxas de países subdesenvolvidos?
Quanto às diferenças de índices dentro do Brasil, com regiões em que o tumor fica em segundo lugar nas taxas de incidência e outras em quarto e quinto, a médica acredita que esse cenário é um pouco reflexo do que acontece no mundo, relacionado em parte com o acesso aos exames de rastreamento para prevenir a doença. “Se formos comparar, em países desenvolvidos, como Estados Unidos e alguns locais da Europa, o câncer de colo de útero não é uma realidade tão preocupante e a incidência é muito inferior”.
A oncologista atribui os índices à dificuldade do acesso, que faz com que as mulheres acabem indo menos ao ginecologista para fazer check-up e em alguns casos fazem o exame e não vão pegar o resultado. Ela chama atenção também para as diferenças que existem não apenas de uma região para outra, mas na comparação entre o serviço público e privado. “É mais difícil no setor privado atender pacientes com câncer de colo de útero, enquanto no SUS é muito mais frequente, porque no serviço privado é comum as mulheres fazerem papanicolau de rotina e acompanhamento com ginecologista”.
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